terça-feira, 21 de junho de 2011

Políticas Públicas, Esquizofrenia, Cidadania e Hospitalização!

          O Conceito de Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, não meramente ausência de doença. Assim descobrimos que para estarmos saudáveis devemos equilibrar nossas relações em um campo de realizações vasto, e que por sua vez, revela nossa condição de vida, através de comportamentos manifestos como ansiedade, tristeza, dor, alegria, frustração, felicidade. Esses fatores existenciais são influentes na estimulação Cerebral, levando o médico Hipócrates, na era clássica a observar que: “os homens devem saber que o Cérebro e apenas o Cérebro, nascem nossos prazeres, alegrias, risos e gracejos, assim como nossas tristezas, dores, mágoas e temores. Por meio dele, em particular, pensamos, vemos, ouvimos...”.
          Ainda hoje a doença mental não é tratada com seriedade e respeito por parte das autoridades da saúde no Brasil, chegando ao cinismo de permitir que pessoas portadoras de Esquizofrenia andem pelas ruas das cidades e estradas federais, como se existir fosse estar subjetivamente tão distante da realidade, restando ao portador dessa doença a liberdade do horizonte na imensidão do vazio, coisificando sua cidadania, no sentido fenomenológico, diante da sociedade que assim opta por estigmatizá-lo, colocando no discurso político, e de forma grave, a negação da internação hospitalar, quando da necessidade dessa, diante dos quadros clínicos de surto psicótico.          Franco Basaglia, no livro a Instituição Negada, propõe a necessidade da humanização do tratamento interdisciplinar ao doente mental, combatendo a hospitalização desumana e cruel. Um hospital cujo o aspecto reportaria a plena ausência de ações terapêuticas científicas, capazes de propor tratamentos ineficientes, de acordo com a necessidade de cada caso clínico, estudado por equipes interdisciplinares.
          Porém essa proposta de trabalho, defendida por Basaglia, serviu de hálibe para que muitos hospitais psiquiátricos fossem desmontados, fechados, e em muitos países, como no Brasil, que promoveu esse fechamento institucional, a partir daí nada vem oferecendo a nível de tratamento quando dos momentos de acometimento de crises psicóticas, ou seja, não existe emergência psiquiátrica na maioria das capitais brasileiras capazes de acolher e tratar um paciente em surto psicótico e dar orientações devidas a seus familiares. Me perdoe os que gostam dos Centro de Atenção Psicossocial, batizado de CAPS. Seu trabalho até é necessário, porém está servindo de porta bandeira de empregos políticos, mas quase e sempre órfãos de ações integradas e eficientes ao tratamento da doença mental em todo o Brasil.
          No discurso do político brasileiro, observa-se o seguinte: “estamos preocupados e vamos criar um grande debate nacional sobre este tema e assim verificar de que maneira temos que atender essas pessoas portadoras dessas enfermidades... blá, blá, blá...
Na prática a família da pessoa com doença mental tem que ter um cartão de crédito, ou seja, recursos financeiros próprios para dizer onde e como pretende tratá-lo, sem isso, ele e sua família vagam em sua eterna solidão de desemparo institucional.
          A família, em alguns casos, passa a receber um rótulo de desestruturada, e muitas vezes é consideração culpada pela doença do ente querido, além disso, são aconselhados a seguir uma igreja, onde devem tratar a doença de forma espiritual, rezando e orando, aumentando a fé familiar, ajudando assim a exorcizar o demônio que habita as trevas da alma do ente querido, regredindo a um recurso muito usado no século XVII e XVIII, onde a definição de doença mental não era do poder da ciência médica, logo seu tratamento não poderia ser realizado no hospital.          Não estou condenando a fé transcendente de uma pessoa, a mesma pode utilizá-la. Estou dizendo que a espiritualidade não pode ser responsável pelo tratamento de doenças mentais graves como a Esquizofrenia, sendo necessário levar em consideração os fatores atenuantes endógenos da patologia, e estes por sua vez, devem ser os norteadores do tratamento clínico interdisciplinar.
          Volto a citar Franco Basaglia, ao revelar sua compreensão sobre o paciente com Esquizofrenia: “estou de acordo que um esquizofrênico é um esquizofrênico, mas uma coisa é importante: ele é um homem e tem necessidade de afeto, de dinheiro e de trabalho; é um homem total e nós devemos responder não à sua esquizofrenia, mas a seu ser social e político”.
          Então vamos esclarecer o que se compreende por Esquizofrenia. Esse nome foi criado pelo psiquiatra suíço Eugen Bleuler, no início do século XX, que significa literalmente “divisão” ou “fragmentação” da mente, derivado do grego clássico (equizo = dividido, fragmentado; fren = mente). O Dr. Bleuler acreditava que a característica essencial da esquizofrenia era a incapacidade de pensar de forma clara e de unir “linhas associativas” durante o processo do pensamento e da fala.          Em seu livro, Admirável Cérebro Novo a Dra. Nancy C. Andreasen, relata que a Esquizofrenia tem um comprometimento amplo em uma grande variedade de sistemas cognitivos e emocionais do cérebro humano.

          São sintomas da Esquizofrenia:
Sintomas ........................Funções mentais Positivas
Alucinações; .......................................Percepção
Delírios; ..............................................Pensamento inferencial;
Discurso desorganizado; ..................Organização da linguagem e idéias;
Comportamento desorganizado; ....Monitoramento e planejamento do comportamento;
Emoções inapropriadas. ..................Avaliação e resposta emocional.

Negativos
Alogia; ................................................Fluência da linguagem e pensamentos;
Embotamento afetivo; .....................Expressão de emoções e sentimentos;
Anedonia; ..........................................Capacidade de experimentar prazer;
Avolição; ............................................Capacidade de começar coisas e continuar;
Limitação de atenção. ......................Capacidade de concentrar a atenção.


          Assim, buscando entender a causa dessa temível doença, tenho que discutir a questão genética, sem deixar de citar que a esquizofrenia tem um vasto estudo nessa área, já sendo possível afirmar que o padrão real de transmissão familiar sugere influência dos genes. Se um dos pais tiver esquizofrenia, há possibilidade de aproximadamente 10% de um dos filhos desenvolver a doença. Se ambos os pais tiverem, esse risco passa para 40 a 50%. Da mesma forma se um irmão ou irmã tiver a doença são de 10%, aumentando para 20% se um dos pais e um irmão ou irmã tiverem a doença.
Mas não é justo deixar a culpa sobre a natureza genética. Vários estudos genéticos de famílias sugerem que os genes devem influenciar, mas sozinhos não causam a esquizofrenia. 

          É provável que outros fatores, devem ser somados a uma pre-disposição genética para que a patologia se desenvolva, visto o percentual de 1% ser encontrado em famílias sem historicidade da doença.
          A maioria dos cientistas pensam na esquizofrenia como sendo multifatorial, envolvendo múltiplos genes, sendo encontrado no cromossomo 5 ou 11 ou mesmo no 22 entre outros, e, possivelmente, assim como muitas influências não genéticas e / ou ambientais podem estar como causa desencadeadora da doença. Os estudos estão avançados e muitas novidades ainda virão nos revelar o quanto essa patologia é perversa, no sentido de sofrimento, para a pessoa do doente e sua família.
          Honestamente, sabemos que todo bom tratamento para uma doença grave, começa com um bom diagnóstico e uma ação terapêutica capaz de fazer o organismo voltar a viver sua totalidade, seu equilíbrio, ou seja, sua homeostase.          Então, como não permitir que os hospitais psiquiátricos possam voltar a existir, visando internar pessoas portadoras de doença mental, quando da necessidade maior, ou seja, nas crises acometidas ao longo de sua vida?
          Antes de mais nada, analise o que isso representa para uma família que tem um ente querido com o quadro patológico de esquizofrenia!
          Franco Basaglia, em seu livro Psiquiatria Alternativa, revela que não se pode negar a existência de uma doença, e afirma: “Eu penso que a loucura, como todas as doenças, são expressões das contradições de nosso corpo, e dizendo corpo, digo corpo orgânico e social. É nesse sentido que direi que a doença, sendo uma contradição que se verifica no ambiente social, não é um produto apenas da sociedade, mas uma intenção dos níveis nos quais nos compomos: biológico, sociológico, psicológico”.
          Assim, não cabe apenas o discurso filosófico diante do sofrimento humano, é necessário tratar o organismo como um todo, antes que esse quadro prejudique ainda mais a vida da pessoa portadora e de todos que vivem a sua volta, pois é verdade, que a doença mental não se transmite por contato direto, mas o sofrimento do doente, este sim, é também o sofrimento de sua família, expresso em lágrimas e alegria quando do controle sobre o quadro clínico manifesto, visto que a Esquizofrenia não apresenta cura definitiva, ainda, clinicamente.
          A Organização Mundial de Saúde, em uma estimativa divulgada em 2002 revela que 25 milhões de pessoas tem esquizofrenia no mundo e cientificamente sabe-se que 1% da população mundial sofre desse transtorno mental, sendo considerada a mais cruel e devastadora das doenças mentais conhecidas. Na maioria dos casos, ela agride seus portadores em idade precoce, quase sempre entre os 15 e 16 anos, modificando todo o horizonte de vida planejado pela pessoa e sua família, impedindo sua integração social em uma fase de natural expansão.
          Essa patologia é responsável por um forte ônus econômico, custando aos governos sérios, o que não é o caso do governo Brasileiro, milhões de dólares em seu tratamento anual, visto que o quadro clínico é quase sempre progressivo, fazendo com que o paciente tenha que ser reinternado quando da manifestação da doença, o que é esperado em seu prognóstico. Assim é realizada uma reavaliação no ato da reinternação, objetivando estudar a evolução da doença e sua sintomatologia manifesta, desta forma tenta-se impedir o avanço maior, que poderá causar a despersonalização plena da pessoa portadora de Esquizofrenia.     Você já deve ter visto algumas pessoas neste quadro clínico, vagando pelas ruas.          O tratamento deve ser feito com base em parecer técnico de equipe interdisciplinar.Contando com a presença de Médicos com especialidades diversas e mais Psicólogo, Enfermeiro, Nutricionista, Terapeuta Ocupacional, Assistente Social e Pedagogo. Porém observa-se que essa equipe acaba sendo desvalorizada, por nosso Ministério da Saúde, com o poder público, investindo menos recursos financeiros nas áreas das especialidades necessárias e que deveriam compor a equipe para buscar o máximo de êxito científico no tratamento clínico da Esquizofrenia.
          A psicoprofilaxia para combater as doenças mentais graves, pode ser realizada com a família investindo em esporte, cultura e lazer, proporcionando estímulos às atividades motoras e intelectuais e assim produzir endorfina, ou seja, aumentar o prazer da pessoa que está realizando a atividade, causando maior satisfação na criança e no jovem, possibilitando assim, estímulos neurotransmissores saudáveis, em intervalos de tempo de no máximo 72 horas entre as atividades propostas e aceitas, causando bem estar ao corpo e a mente, podendo com isso ampliar a qualidade de vida dos membros da família.
          Oswaldo Montenegro me ajuda a terminar esse texto,
revelando em seu poema Metade:
“... que minha loucura seja perdoada,
pois metade de mim é amor
e a outra também”.
Nos ajude a pensar esse tema, lute contra a discriminação.

Obrigado.
Mauri Gaspar.


Bibliografia
ANDREASEN, Nancy C. Admirável Cérebro Novo, Artmed, 2005.
BOCK, Ana Mercês Bahia, Furtado, Odair, Teixeira, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias – Uma Introdução ao Estudo da Psicologia. Ed. Saraiva, 2003.