terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Horizontes Poéticos: meus sonhos e o tempo!



     Refletir sobre os sonhos e o tempo em minha vida me reporta primeiro ao agradecimento por ter sido capaz de uma singularidade expressiva de meu ser, que possibilita  saber compartilhar com as demais pessoas que por motivos pessoais ou profissionais fazem parte de minhas angústias, ansiedades e alegrias vivenciadas. 
Então vou começar a refletir a partir de Belchior, no verso: “Viver é melhor que sonhar”.  Isto implica em cuidar mais de mim, no sentido de saber caminhar no dia a dia do meu viver, olhar para frente, construir novas trajetórias, aprender com o passar de anos vividos, amadurecendo na busca de um equilíbrio maior, benéfico, saudável.
E o mesmo poeta diz: “Eu sei que o amor é uma coisa boa”, implicando em um sentimento direcionado na busca de compreender sobre a importância do outro em minha vida, sou capaz de amar esse outro, e esse momento singular produz paz interior, permitindo amar para cuidar, cuidar para amar, e assim sentir a vida em uma dimensão maior em mim.



      João Gilberto diz, “solidão apavora”. Ele me avisa que preciso estimar minhas relações interpessoais, sendo verdade que me torno um ser livre na escolha pessoal, porém jamais ausente dessa escolha, visto o risco de ver “a chuva que cai lá fora”, sem nenhuma companhia para cantar e mandar a tristeza embora.

     Gilberto Gil, diz: “Um dia vivi a ilusão de que ser homem bastaria, de que o mundo masculino tudo me daria”. Porém, foi preciso descobrir minha sensibilidade diante do outro e me destituir da linguagem de SUPER ALGO, seja lá no que eu estiver pensando que sou superior. Na verdade preciso perceber que sou a escravidão ampliada de minha vaidade, ao perceber isto, abandono o super e me encontro com o que sou agora, sem o receio de descobrir minhas fragilidades e forças disponíveis para viver.


     E o mesmo poeta me aperfeiçoa ao me despertar que: “a gente precisa ver o luar”. Quando vou ver o luar, meu olhar se volta à condição de sentir algo de lembrança, saudade presente de íntimos sentimentos representados na descarga emocional de bem estar, sorriso leve do encontro com a lembrança reportada no olhar da lua diante do cosmo afetivo em mim.

     Lô Borges, na Bela música Clube da Esquina nº 2. (...) “por que se chamavam homens, também se chamavam sonhos e sonhos não envelhecem”... Assim os sonhos se renovam na vida a todo instante, eternizando um desejo que é viver algo que se coloca na condição de buscar, um eterno vir a ser. E Lô Borges me ajuda a aprofundar essa reflexão ao dizer: ... “e lá se vai mais um dia”. Avisando-me que: “basta contar compasso e basta contar consigo, que a chama não tem pavio”. Por isso, o sonho não se esgota, precisando apenas da chama de ternura subjetiva do meu ser. 



     Por isso Ivan Lins me avisa, que: “no novo tempo, apesar dos castigos, estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos, pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer. No novo tempo, apesar dos perigos, da força mais bruta, da noite que assusta estamos na luta, pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver. Pra que nossa esperança, seja mais que a vingança, seja sempre um caminho que se deixa de herança”. Esse caminho de herança se moverá pela força do sonho implantado por nossas atitudes diante de uma sociedade que precisa ser socorrida da ausência da fraternidade em toda sua forma de expressão. Porém, diz o mesmo poeta: “depende de nós”. Afinal “... esse seu jeito de achar que a vida pode ser maravilhosa”....
E para que a vida possa ser maravilhosa eu preciso viver o amor, este é uma necessidade que ultrapassa todas as concepções humanas, sem se subordinar a nenhuma delas, e assim Renato Russo me avisa: ...”é preciso amar, as pessoas como se não houvesse amanhã porque se você parar pra pensar na verdade não há”... 


     Aqui encontro Rui Barata, eterno poeta paraense, que nos avisa: “este rio é minha rua”. O poeta me convida para compreender o rio como o caminho que conduz às expectativas do homem diante de seu eterno navegar, indo à busca de seu oceano de sonho. Porém o mesmo poeta me adverte que o tempo: ...“tem tempo de o tempo ser, tem tempo do tempo dar, ao tempo da noite que vai correr, ao tempo do dia que vai chegar”. O tempo presente está agora em minha companhia, o senhor da vida, pois tudo demanda do tempo, e o mesmo é tão grandioso que trata todas as pessoas de forma igual, sem nenhuma distinção particular ou discriminação de qualquer ordem.

     ... ”Ô John, o tempo, andou mexendo com a gente sim”..., nesse sentido Belchior me faz contemplar a vida a partir da soma de meus sonhos com o ideal. E o tempo, por sua vez, me desperta a buscar a percepção do sonho com o real. Assim, minha identidade é composta do ontem, do hoje e do amanhã, me permitindo ser o homem que olha a sociedade não como um expectador de seu tempo passivo ao seu sonho, mas fundamentalmente um homem que se libertou e se liberta a todo o momento, por se permitir sonhar diante da vida social, percebendo que a minha estrada é pavimentada com meus sentimentos, e estes me ajudam na consolidação de meu caminhar.




     Sem temer à vida, vou à direção do horizonte poético de meu sonho e de meu tempo.

      Mauri Gaspar
Psicólogo e Professor