segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Considerações Sobre Saúde Mental no Trabalho



A Saúde Mental está diretamente relacionada à maneira como a pessoa reage às condições de seu meio social e ao papel que ela exerce nesse meio, buscando equilibrar seus desejos e suas necessidades.
A Organização Mundial de Saúde define como Saúde Mental “o estado de bem-estar no qual o indivíduo realiza as suas capacidades, pode fazer face ao estresse normal da vida, trabalhar de forma produtiva e frutífera e contribuir para a comunidade em que se insere” (OMS, 200, p. 44).

Para que isso ocorra, as políticas públicas de saúde devem estabelecer condições de atuação no campo das prevenções às doenças mentais como um todo. Assim, as condições sociais e o combate ao estresse devem ser trabalhados tanto nas empresas como no meio social que envolve a vida do colaborador. Logo, as empresas devem participar e produzir ações de valorização da autoestima e do bem estar do seu colaborador para que consiga exercer o máximo de sua habilidade e competência ocupacional.
Por um lado, observa-se que algumas organizações industriais e comerciais vêm investindo com o intuito de eliminar os riscos de saúde mental aos seus colaboradores, como por exemplo, melhores condições de relacionamento interpessoal, permitem a autonomia e a discussão em grupo das metas organizacionais, bem como procuram diminuir os riscos de insalubridade, além de atuarem com a exigência do uso de material de segurança. Dessa forma, essas organizações não só cumprem a legislação, mas buscam demonstrar uma preocupação com a vida do trabalhador.

Ao mesmo tempo, o ambiente de extrema competitividade entre as organizações do mundo atual, tem demonstrado um desequilíbrio que poderá implicar em perda da saúde mental, como por exemplo, nas lojas de departamentos de vestuários, onde o seu sistema de comunicação anuncia através de códigos de linguagem, aos grupos de colaboradores, que os rendimentos das equipes estão sendo avaliados a cada hora, o que expõe a política de competitividade adotada na organização. O que pode gerar lucro, também pode gerar transtorno de estresse pós-traumático devido a carga de estresse vivenciada durante as oito horas de atividade ocupacional. Nesse tipo de condição de trabalho, isso também terá um reflexo na vida pessoal e consequentemente familiar e social desse colaborador. Ou seja, uma meta pode e deve ser objetivada por uma organização, porém a forma como se busca alcançar a meta é que pode ser um fator de desencadeamento dos estressores ocupacionais, visto que hoje em dia a experiência do colaborador não tem sido usada, despersonalizando seu conhecimento, colocando seu saber como algo que não pode ser utilizado naquele momento. Assim, a oportunidade para desenvolver seu talento, mudança no fazer do trabalho, grau de autonomia gerencial de sua função, são retirados do dia a dia, onde o volume de trabalho é ampliado e o tempo continua a ser o de natureza contratual, esses exemplos citados podem ser facilitadores do risco ocupacional quanto a questão da saúde mental.


Estudar a Saúde Mental nos faz perceber uma gama de preconceitos, oriundos da ordem social capitalista que estabelece o lucro como única fonte de bem estar industrial e comercial. Nesse sentido, o sujeito deixa de ser o trabalhador e passa a ser o ocupante de um cargo, objeto de sua produtividade. Assim, suas necessidades e demandas pessoais não são pensadas como prioridade de ações no planejamento da atividade laboral, sendo que o interesse maior reside no fazer do cargo.
No mundo capitalista atual, fica cada vez mais difícil não se deparar com fatores que colocam em riscos à Saúde Mental do Trabalhador nos diferentes âmbitos profissionais, visto que cada área de atuação profissional tem o seu grau de risco tanto físico como mental. Assim, posso citar um conjunto de dimensões que envolvem aquelas relacionadas às altas demandas de trabalho e aquelas relacionadas a poucos recursos, totalizando vários fatores como fortes agravantes para o comprometimento da saúde do trabalhador, podendo ocasionar Estresse Emocional (EE), que se caracteriza pelo esgotamento físico, falta de energia corporal para enfrentar outros projetos, outras pessoas, sentindo-se incapaz de se recuperar de um dia para o outro, bem como a Despersonalização (D), que se caracteriza pelas atitudes de descrença, distância, cinismo, frieza e indiferença em relação ao trabalho e colegas, e também apresenta a Perda da Realização Profissional (PRP) que se caracteriza pelo fato da pessoa experimentar-se ineficiente, incapaz, certa que seu trabalho não produz diferença à organização.
Quando essas três vertentes são identificadas, estamos diante da Síndrome de Burnout, apresentando ainda outros sintomas físicos e emocionais que estão muito presentes no dia a dia do trabalhador, como por exemplo: dores de cabeça, irritabilidade, sentimentos de negativismo, absenteísmo, entre outros. Quando o trabalhador apresenta essa sintomatologia descrita, muitas vezes o setor de Recursos Humanos acaba sendo pressionado a demitir o empregado, não sendo oportunizado buscar sanar o problema em sua origem, visto que para o sistema capitalista essa intervenção na área de saúde poderá demandar tempo de ausência de produção, face ao afastamento ocupacional. Assim, a demissão torna-se o fator de decisão gerencial, em função do problema de saúde apresentado, que poderia ser tratado a partir do interesse organizacional, valorizando de forma efetiva a vida do seu colaborador. 

No campo da prevenção à saúde mental do colaborador, ainda preciso descrever que algumas organizações vêm implantando a Ginástica Laboral como condição de prevenir os fatores de riscos à saúde do trabalhador, buscando produzir bem-estar através de exercícios físicos aplicados aos grupos heterogêneos em suas atividades profissionais. Porém, observasse que essa proposta mais tradicional isentasse de ofertar atividades físicas e mentais mais específicas à natureza do cargo exercido, devido não estar se dirigindo aos fatores estressantes que fazem parte do dia a dia da atividade laboral.
Nesse sentido, os setores de recursos humanos das organizações devem planejar urgentemente atividades que contemplem a prevenção dos riscos físicos e mentais que envolvam as atividades laborais existentes na organização, aumentando o prazer e a motivação para a execução dessas atividades, visando produzir um equilíbrio maior entre a produtividade (fator profissional) e a realização pessoal (fator pessoal). 

Os desafios dos Gestores de Recursos Humanos são amplos, por isso:

“...navegar é preciso, viver não é preciso”...



  
 Profª. Roseane Mota
Bióloga e Pós-graduanda em Psicologia Organizacional e do Trabalho.

Bibliografia

- Material cedido pelo Curso de Pós-Graduação em Psicologia Organizacional e do Trabalho da Universidade Católica Dom Bosco em parceria com o Portal Educação.