A natureza do conflito se personifica nas relações humanas, em função de que ao longo de nossas vidas buscamos satisfazer necessidades básicas e isso nem sempre se consegue apenas por força de nossa vontade ou voluntariedade, na medida em que os propósitos da existência humana podem encontrar outras construções de relacionamentos humanos que, por terem interesses divergentes poderão acarretar situações de maior embaraço produzindo conflito e dependendo das circunstâncias brotar alterações no quadro mental.
Em
nossas relações afetivas, profissionais e comerciais, com uma ou outras pessoas
que se encontram no mesmo propósito de intenções, essas relações podem ser
tranquilas, no entanto, quando tem vieses diferentes podem gerar interesses
divergentes e isso por si só deverá ampliar o campo de tensão entre as partes
envolvidas.
Ao
percebermos que em todo relacionamento humano existe um contrato psicológico
seja ele por escrito ou de forma implícita, temos a certeza de que esse contato
vai sinalizar e exigir das pessoas envolvidas algumas expressivas relações de
reciprocidades, visto que todo ser humano espera algo do outro a partir do
encontro de interesses comuns, e quando isso não ocorre entramos na temática da
divergência humana.
Na
existência do contrato psicológico, os papéis humanos já estão preestabelecidos
a partir de um quadro característico de responsabilidade, expectativa de
eficiência e de respeito ético. Porém quando isso não se concretiza, o campo
dinâmico da relação individual ou grupal deverá sofrer intervenções de riscos
eminentes para um conflito duradouro e de difícil resolução, visto que poderá
acarretar muito desgaste de energia emocional tanto individual quanto coletiva,
dependendo dos reais interesses envolvidos nas questões.
Quanto
mais tempo um conflito existir em uma relação pessoal, grupal, social ou até
mesmo entre nações, maior será a probabilidade de ações aversivas entre as
concepções colocando em risco as vidas...
Trazendo
para essa temática uma construção mais proximal de nossa realidade, todas as
famílias possuem seus conflitos em função das concepções internas e externas
que estão sendo modificadas de forma muito intensa e a curto prazo, o que
mobiliza os alicerces afetivos das pessoas envolvidas na questão, alterando de
forma significativa a projeção emocional de seus membros.
Um
exemplo para o dia de hoje como gerador de conflito familiar está nossa alta
taxa de desemprego, fato que pressiona o campo psicológico da convivência sobre
os que estão conseguindo trabalhar, despertando tensão na pessoa que está na
atividade laboral em função da possibilidade de perder esse rendimento
econômico, se isso vier ocorrer ela terá dificuldade em manter seu alicerce
familiar, o que facilitará o estresse no campo interpessoal, bem como expressões
de rupturas comportamentais abrindo espaço para o surgimento de patologias
mentais.
Afirmo
aqui que as mudanças podem beneficiar uma natureza conflitiva, mas como viver
sem mudar e sem conflitar, isso é possível?
A
resposta a esta pergunta nos coloca diante de um dilema que é a certeza de que
a mudança chegará, cabendo a cada pessoa procurar se adaptar e assim assumir
seu novo papel social e profissional. Logo, nos resta viver e procurar
acompanhar a mudança de acordo com a perspectiva na esfera pessoal e
profissional, caso contrário, sairemos do jogo da empregabilidade o que pode
intensificar a natureza conflitiva.
Entender
que tudo pode mudar a todo momento, produz no Homem um ser ansioso, visto que o
passado ele conhece, o presente ele sente o que pode fazer, mas quanto ao seu
futuro, esse desperta um sentimento de incerteza maior, e isso poderá gerar
episódio de dificuldade adaptativa despertando conflito atrelado a sua própria
condição de existir.
Todo
conflito tem uma natureza de comunicação específica, ele sinaliza que algo
precisa ser modificado na relação vivida, porém quando isso acontece, estamos
diante de um campo dinâmico, território do poder, esse território pode estar do
ponto de vista físico na residência, trabalho, transportes, escola, tantos
outros lugares de convivência humana.
Quando
começa esse cabo de guerra, dentro do território do poder, afloram sentimentos
expressos em linguagens ou gestos que possibilitam interpretar o risco
existente na relação, devendo ser supervisionado por mais pessoas, para assim
evitar agressões mais acentuadas tanto no campo físico como verbal.
Parte
desses comportamentos expressos no ato do cabo de guerra são voluntários,
produzindo mudança no fazer das ações e em sua origem manifesta. Outros
comportamentos surgem de situações traumáticas inconscientes ou involuntárias,
sendo originário de sentimentos acumulados ao longo da vida, isso pode
dificultar ainda mais uma resolução tranquila do conflito, visto que o fator
traumático se manifesta com expressões aprendidas e catalogadas como mecanismos
de defesa.
Diante
dessa circunstância a pessoa em questão não pode conviver com realidade
imposta, o que poderá acarretar uma ruptura de caráter, ou mesmo uma crise
mental provida do choque no enfrentamento, ou ainda, manifestações de doenças
psicossomáticas ao fim desse episódio de conflito, com aparecimentos nos
próximos dias ou meses de queixas clínicas em áreas do corpo, podendo surgir
estresse, dores no corpo, ou ainda possibilitar o surgimento de doenças como
úlcera, gastrite, dispneia, cefaleia, e tantas outras situações clínicas que se
manifestam nos conflitos emocionais e que estão dissimuladas ou presentes nas
pessoas envolvidas na situação conflitiva.
Aqui
surge a necessidade de um mediador no conflito. Essa pessoa deve analisar a
situação problema de forma ampla, buscando dialogar com ambas as partes
conflitadas, procurando despertar pontos comuns de interesses e seus efeitos na
negociação, sinalizando a possibilidade de reduzirem suas crises expressivas de
ansiedade e poder, procurando estabelecer um ponto de proximidade entre as
partes para que a ruptura não seja tão traumática.
Negociar
é ceder algo para poder avançar no sentido da harmonia entre as partes
envolvidas, essa é a situação ideal para que o sofrimento mais amplo possa dar
lugar ao retorno da saúde mental de todos os envolvidos.
Para que isso ocorra, precisamos ter paciência, empatia, ternura, bem como firmeza na argumentação, pois essas atitudes serão determinantes para a resolução do conflito, devendo estar presentes nas ações do mediador, pois em situação de conflito de qualquer natureza, não se brinca, é melhor resolver o mais rápido possível...
Precisamos
de Paz Interior para construirmos a Paz Social, porém também é verdadeiro
afirmar que precisamos da Paz Social para construirmos a Paz Interior. Logo,
precisamos ser mediadores, responsáveis, fraternos e solidários em nossas
relações humanas, visto que todo relacionamento é originário da atitude do
Homem em seu território existencial...