sexta-feira, 31 de julho de 2020

Natureza do Conflito, Relações Humanas e Saúde Mental.

A natureza do conflito se personifica nas relações humanas, em função de que ao longo de nossas vidas buscamos satisfazer necessidades básicas e isso nem sempre se consegue apenas por força de nossa vontade ou voluntariedade, na medida em que os propósitos da existência humana podem encontrar outras construções de relacionamentos humanos que, por terem interesses divergentes poderão acarretar situações de maior embaraço produzindo conflito e dependendo das circunstâncias brotar alterações no quadro mental.

Em nossas relações afetivas, profissionais e comerciais, com uma ou outras pessoas que se encontram no mesmo propósito de intenções, essas relações podem ser tranquilas, no entanto, quando tem vieses diferentes podem gerar interesses divergentes e isso por si só deverá ampliar o campo de tensão entre as partes envolvidas.

Ao percebermos que em todo relacionamento humano existe um contrato psicológico seja ele por escrito ou de forma implícita, temos a certeza de que esse contato vai sinalizar e exigir das pessoas envolvidas algumas expressivas relações de reciprocidades, visto que todo ser humano espera algo do outro a partir do encontro de interesses comuns, e quando isso não ocorre entramos na temática da divergência humana.

Na existência do contrato psicológico, os papéis humanos já estão preestabelecidos a partir de um quadro característico de responsabilidade, expectativa de eficiência e de respeito ético. Porém quando isso não se concretiza, o campo dinâmico da relação individual ou grupal deverá sofrer intervenções de riscos eminentes para um conflito duradouro e de difícil resolução, visto que poderá acarretar muito desgaste de energia emocional tanto individual quanto coletiva, dependendo dos reais interesses envolvidos nas questões.


Quanto mais tempo um conflito existir em uma relação pessoal, grupal, social ou até mesmo entre nações, maior será a probabilidade de ações aversivas entre as concepções colocando em risco as vidas...

Trazendo para essa temática uma construção mais proximal de nossa realidade, todas as famílias possuem seus conflitos em função das concepções internas e externas que estão sendo modificadas de forma muito intensa e a curto prazo, o que mobiliza os alicerces afetivos das pessoas envolvidas na questão, alterando de forma significativa a projeção emocional de seus membros.

Um exemplo para o dia de hoje como gerador de conflito familiar está nossa alta taxa de desemprego, fato que pressiona o campo psicológico da convivência sobre os que estão conseguindo trabalhar, despertando tensão na pessoa que está na atividade laboral em função da possibilidade de perder esse rendimento econômico, se isso vier ocorrer ela terá dificuldade em manter seu alicerce familiar, o que facilitará o estresse no campo interpessoal, bem como expressões de rupturas comportamentais abrindo espaço para o surgimento de patologias mentais.

Afirmo aqui que as mudanças podem beneficiar uma natureza conflitiva, mas como viver sem mudar e sem conflitar, isso é possível?

A resposta a esta pergunta nos coloca diante de um dilema que é a certeza de que a mudança chegará, cabendo a cada pessoa procurar se adaptar e assim assumir seu novo papel social e profissional. Logo, nos resta viver e procurar acompanhar a mudança de acordo com a perspectiva na esfera pessoal e profissional, caso contrário, sairemos do jogo da empregabilidade o que pode intensificar a natureza conflitiva.

Entender que tudo pode mudar a todo momento, produz no Homem um ser ansioso, visto que o passado ele conhece, o presente ele sente o que pode fazer, mas quanto ao seu futuro, esse desperta um sentimento de incerteza maior, e isso poderá gerar episódio de dificuldade adaptativa despertando conflito atrelado a sua própria condição de existir.

Todo conflito tem uma natureza de comunicação específica, ele sinaliza que algo precisa ser modificado na relação vivida, porém quando isso acontece, estamos diante de um campo dinâmico, território do poder, esse território pode estar do ponto de vista físico na residência, trabalho, transportes, escola, tantos outros lugares de convivência humana.

Quando começa esse cabo de guerra, dentro do território do poder, afloram sentimentos expressos em linguagens ou gestos que possibilitam interpretar o risco existente na relação, devendo ser supervisionado por mais pessoas, para assim evitar agressões mais acentuadas tanto no campo físico como verbal.

Parte desses comportamentos expressos no ato do cabo de guerra são voluntários, produzindo mudança no fazer das ações e em sua origem manifesta. Outros comportamentos surgem de situações traumáticas inconscientes ou involuntárias, sendo originário de sentimentos acumulados ao longo da vida, isso pode dificultar ainda mais uma resolução tranquila do conflito, visto que o fator traumático se manifesta com expressões aprendidas e catalogadas como mecanismos de defesa.

Diante dessa circunstância a pessoa em questão não pode conviver com realidade imposta, o que poderá acarretar uma ruptura de caráter, ou mesmo uma crise mental provida do choque no enfrentamento, ou ainda, manifestações de doenças psicossomáticas ao fim desse episódio de conflito, com aparecimentos nos próximos dias ou meses de queixas clínicas em áreas do corpo, podendo surgir estresse, dores no corpo, ou ainda possibilitar o surgimento de doenças como úlcera, gastrite, dispneia, cefaleia, e tantas outras situações clínicas que se manifestam nos conflitos emocionais e que estão dissimuladas ou presentes nas pessoas envolvidas na situação conflitiva.

Aqui surge a necessidade de um mediador no conflito. Essa pessoa deve analisar a situação problema de forma ampla, buscando dialogar com ambas as partes conflitadas, procurando despertar pontos comuns de interesses e seus efeitos na negociação, sinalizando a possibilidade de reduzirem suas crises expressivas de ansiedade e poder, procurando estabelecer um ponto de proximidade entre as partes para que a ruptura não seja tão traumática.

Negociar é ceder algo para poder avançar no sentido da harmonia entre as partes envolvidas, essa é a situação ideal para que o sofrimento mais amplo possa dar lugar ao retorno da saúde mental de todos os envolvidos.

Para que isso ocorra, precisamos ter paciência, empatia, ternura, bem como firmeza na argumentação, pois essas atitudes serão determinantes para a resolução do conflito, devendo estar presentes nas ações do mediador, pois em situação de conflito de qualquer natureza, não se brinca, é melhor resolver o mais rápido possível...

Precisamos de Paz Interior para construirmos a Paz Social, porém também é verdadeiro afirmar que precisamos da Paz Social para construirmos a Paz Interior. Logo, precisamos ser mediadores, responsáveis, fraternos e solidários em nossas relações humanas, visto que todo relacionamento é originário da atitude do Homem em seu território existencial...