Quem dera se o mundo estivesse vivendo um período de paz por pelo menos uma década, sem guerras, sem aumento da fome, sem a extrema violência dos ternos (corrupção), sem a questão política dos refugiados, sem o aumento do crime organizado, sem a impiedosa agressão à criança e ao adolescente, sem a proliferação das milícias, sendo que essas no conjunto de suas ações impõem o medo, tirania e morte nas comunidades que dominam, criando um tribunal "ético" a partir exclusivamente dos seus interesses econômicos e políticos.
Na
prática do nosso dia a dia a violência no mundo e seu reflexo na sociedade
atual nos faz reféns, construindo fobias e pânicos que possibilitam o aprisionamento
em nós mesmos, conseguindo agredir de forma sistemática nossa subjetividade, produzindo
relações humanas tensas, gerando insegurança emocional e perda plena da
cidadania em nossa vida pessoal, familiar e social.
As
ameaças geram um cotidiano de violências que passam a ser vistas como algo
natural, e por incrível que pareça para algumas pessoas ela é considerada como
liberdade de expressão, não podendo ser coibida ou impedida por nenhuma
autoridade, seja institucional, familiar e pessoal. A violência se multiplica enquanto
a postura de passividade é vista como algo expressivamente covarde ou até mesmo
ridicularizada, como um ato de plena submissão humana.
A
celebração maior é a radicalização dos argumentos e se nada der certo há ameaça
de morte explicita, onde toda forma de grosseria se permite vangloriar dentro de
um contexto de simplicidade natural, sem que possamos propor um amplo debate sobre
essas inúmeras formas de extremismo da prática social, que hoje estão expressas
nas manifestações religiosas, políticas, de etnias, de gênero, de literatura,
de imprensa ou de uma simples paixão por um time de futebol, tudo que se manifesta
poderá ser agredido, não importa se o ser humano é filho de uma diversidade social
e cultural, o essencial é agredir, é intimidar, é o impedir o manifesto de
singularidade humana, que penso ser o mais belo traço da humanidade e da
natureza universal.
No entanto,
como é bom saber que somos semelhantes por uma questão biológica, porém mais
bonito ainda, é percebermos que nossa historicidade é composta de inúmeras
maneiras estimuladas e modificadas pelo meio ambiente como um todo, o que
resulta no que chamamos de descrições manifestas da personalidade humana.
Falar
e escrever sobre avanço da violência ocupa grande parte de nosso diálogo no cotidiano
e isso nos produz um aumento das tensões e consequente preocupação no âmbito das
relações humanas, visto que o tempo todo assistimos inúmeras formas de
agressões que são praticadas em nossa sociedade e divulgadas em larga escalas
nas redes sociais, e assim, estamos sendo informados das inúmeras faces da
violência.
Encontramos
o assassinato dentro e fora das relações familiares, o crescente aumento do
feminicídio, balas perdidas, agressões verbais corriqueiras, inclusive na
internet, tudo que era considerado um absurdo, agora passa a ser “o novo normal”,
visto que produzimos desculpas como falta de amor, falta de carinho, falta de
educação, falta de Deus, falta, falta, falta...
Dessa
forma culpando algo ou alguém que não sou eu, a situação se explica, e a vida segue
seu curso de naturalidade da violência diante de sua expressão brutal cotidiana.
Não conseguimos pensar e nem dizer que somos perigosos por condição de nossa própria natureza humana, mas na prática projetamos sentimentos egoístas e pensamos muito mais em nossos interesses do que das demais pessoas que estão em nossa volta. Isso por si só, já nos coloca diante da possibilidade de exercermos a violência da exclusão para contemplar uma resposta de meu interesse, neste sentido procuro me posicionar como um ser superior ao meu semelhante, mesmo que eu saiba que um dia irei me deparar com o princípio da vida que é a morte.
Acredito,
que o Homem deve procurar se habilitar viver de uma maneira colaborativa,
solidária e fraterna, procurando assim superar sua cadeia egoísta, perversa e
violenta na qual pode ter sido estimulado e também se tornado vítima dessa agressividade
social do qual ele, eu e você sofremos constantemente...
Isso
me reporta o pensamento existencialista Sartreano de que “ O importante não é o
que fizeram de mim, mas o que faço do que fizeram de mim”! Sabemos que o exercício
de crescimento humano não é tão simples, porém não é impossível, visto exigir
que o humano pode repensar, refazer e reavaliar sua atitude observando sua
prática nas inúmeras formas de convivência com seu semelhante...
A
força de um homem deve ser mensurada por sua prática de viver em sociedade,
buscando o equilíbrio em seus relacionamentos, observando que suas atitudes
poderão beneficiar outras pessoas, como o exemplo de suas virtudes e superações
de episódios violentos, direcionando para uma abordagem maior de inteligência
emocional, ampliando assim sua perspectiva de vida.
Resolver
conflitos é também um ato de vencer nossa própria dificuldade interna, expondo uma
maior grandeza de personalidade e que essa se reflita em favor de um estado de
paz que possa atuar nas relações humanas, tanto pessoais quanto institucionais, e quem sabe assim,
conseguirmos criar um mundo com mais flores e menos armas. No fundo, estamos
sempre fazendo escolhas, e se eu quero uma sociedade mais justa, preciso
combater o arbítrio a partir da mudança em minhas atitudes egoístas no
cotidiano de minha existência.
Logo,
a felicidade não é o resultado dos momentos agradáveis ou desagradáveis, mas
sem dúvida, ela consiste em enxergarmos no horizonte a totalidade do que tem
significado e valor para cada um de nós...
O Ser Humano é o movimento e a transformação daquilo que semeia e sua sociedade, o resultado dessa composição de forças...
Amém...