segunda-feira, 11 de abril de 2011

Neurociência e as Diferenças Entre os Sexos

Que homens e mulheres são diferentes, todos nós percebemos e não temos dúvida disso, visto que o comportamento expresso é bastante diferente em sua natureza e manifestação social, onde se revela que o comportamento masculino é agressivo e o feminino é dócil, repleto de sentimentos amorosos. Mas, quando analisados em laboratórios, os cérebros masculino e feminino apresentam características e tamanhos anatômicos diferentes em algumas áreas que podem ser responsáveis por algumas manifestações comportamentais. Hoje sabemos que além das diferenças anatômicas externas e dos caracteres sexuais primários e secundários, os cientistas afirmam também que existem várias outras diferenças sutis nas maneiras pelas quais os cérebros processam a linguagem, as informações, as emoções, o conhecimento, etc. Entre tantos estudos que apontam diferenças, vamos começar expondo os que revelam uma diferença entre os homens e mulheres quanto ao cálculo do tempo, estimativa da velocidade de um objeto, cálculos matemáticos mentais, orientação de espaço e visualização de objetos tridimensionais. Pois bem, homens e mulheres ao realizarem essas atividades são extremamente diferentes, e o mesmo acontece quando o cérebro processa a linguagem. Assim, algumas explicações podem ser formuladas, tais como: Existem mais homens matemáticos, pilotos de avião, engenheiros mecânicos, arquitetos e pilotos de corrida, do que mulheres nessas profissões.Porém as mulheres possuem mais habilidades em relações humanas, pois reconhecem aspectos emocionais nas outras pessoas com maior facilidade, isso pode explicar como é difícil um homem mentir a uma mulher, além do mais, elas possuem uma maior habilidade na linguagem verbal, possuindo maior facilidade em lembrar de palavras ou parágrafos inteiros. Possuem habilidades artísticas e como todos sabemos, refletindo na apreciação estética, isso pode explicar a natureza vaidosa, bem como um maior êxito na execução de tarefas detalhadas. Em função dessas afirmativas, abrimos um vasto leque científico para estudar o comportamento humano, passando a analisar três fatores:Fatores Congênitos: que compõem o aspecto inato, compreendemos este como o material que está no indivíduo ao nascer, podendo ter influência da vida intra-uterina. Fatores Filogenéticos: diz-se do segmento que estuda os fenômenos genéticos de acordo com a origem e evolução, quer seja nas funções mentais ou na espécie. Fatores Ontogenéticos: É o segmento que estuda o desenvolvimento do indivíduo desde sua concepção, até a maturidade e reprodução.Para o "pai" da Sociobiologia, Edward O. Wilson, da Universidade de Harvard, as mulheres tendem a ser melhores que os homens em empatia, em habilidades verbais, sociais, e de proteção, dentre outras, enquanto que os homens tendem a ser melhores em habilidades de independência, de dominação, em habilidades matemático-espaciais, nas de agressão relacionada à hierarquia, e outras características.Muitas destas características diferenciadas entre os sexos, ganharam respaldo científico ao serem apontadas na sociobiologia e comprovadas na neurociência.Pesquisas revelam que homens e mulheres têm áreas diferentes do cérebro ativadas por um estímulo sexual. Tais características foram, por muito tempo, identificadas como conseqüência da influência social. No entanto, as diferenças de gênero já se manifestam desde alguns meses após o nascimento, quando a influência social ainda é pequena. Como observaram Anne Moir e David Jessel, no livro "Brain Sex". Essas características distintas devem ser atribuídas às diferenças estruturais e funcionais existentes entre os sexos. A neurociência, diante de algumas descobertas realizadas, devido ao emprego e evolução de exames computadorizados, direcionou que muitas destas distinções entre os organismos de homem e mulher encontram em seus cérebros.Áreas do cérebro relacionadas à linguagem.

Descobertas atuais:

Os cientistas que trabalham na Universidade Johns Hopkins University publicaram recentemente na revista especializada "Cerebral Cortex", a descoberta de que existe uma região no córtex chamado de lóbulo infero-parietal (LIP) que é significativamente maior nos homens do que nas mulheres. Essa área é bilateral e localizada logo acima do nível das orelhas (córtex parietal).

Os cientistas da Universidade Johns Hopkins observaram que, nos homens, o lado esquerdo do LIP é maior do que no lado direito. Nas mulheres, a assimetria é exatamente o contrário, embora as diferenças entre os lados, esquerdo e direito, não sejam tão importantes quanto nos homens. Esta é a mesma área que foi demonstrada ser maior no cérebro de Albert Einstein, assim como de outros físicos e matemáticos. Portanto, parece que o tamanho do LIP está correlacionado com as habilidades mentais em matemática.

O estudo dirigido pelo Dr. Godfrey Pearlson, foi realizado graças à análise de varreduras de imagens de ressonância magnética de 15 homens e mulheres. Os volumes foram calculados através de um pacote de software desenvolvido pelo Dr. Patrick Barta, um psiquiatra da Universidade Johns Hopkins. Mesmo depois de descartar as diferenças naturais que existem no volume total cerebral entre os homens e as mulheres, ainda permanecia uma diferença de 5% entre os volumes de LIP (o cérebro dos homens é, em média, aproximadamente 10% maior do que o das mulheres, mas isso é devido ao maior tamanho corporal dos homens: um maior número de células musculares implica em um maior número de neurônios para controlá-las).

Em geral, o LIP permite que o cérebro processe informações a partir dos órgãos dos sentidos e ajude na atenção e percepção seletivas (por exemplo, as mulheres são mais capazes de se concentrar em um estímulo específico, como por exemplo, o choro do bebê à noite). Estes estudos têm relacionado o LIP direito à memória envolvida na compreensão e manipulação das relações espaciais e à capacidade de estabelecer relações entre as partes do corpo. Ele está também relacionado à percepção de nossos próprios sentimentos ou emoções. O LIP esquerdo está implicado na percepção do tempo e do espaço e na capacidade de rotação mental de figuras tridimensionais.

Um estudo anterior do mesmo grupo dirigido pelo Dr. Godfrey Pearlson demonstrou que duas áreas nos lobos frontais e temporais relacionados à linguagem (conhecidos como áreas de Broca e Wernicke, em homenagem a seus descobridores) são significamente maiores nas mulheres, fornecendo assim um motivo biológico para a notória superioridade mental das mulheres relacionada à linguagem.Utilizando imagens de ressonância magnética, os cientistas mediram os volumes de matéria cinzenta em diferentes regiões corticais de 17 mulheres e 43 homens. As mulheres apresentavam um volume 23% maior (na área de Broca, no córtex pré-frontal dorso lateral) e 13% maior (na área de Wernicke, no córtex temporal superior) do que os homens. Esses resultados foram corroborados mais tarde por outro grupo de pesquisadores da Faculdade de Distúrbios da Comunicação da Universidade de Sydney, Austrália, que foi capaz de provar essas diferenças anatômicas nas áreas de Wernicke e de Broca. O volume da área de Wernicke's era 18% maior nas mulheres, comparado aos homens, e o volume cortical da área de Broca era 20% maior em mulheres do que nos homens.

Por outro lado, evidências adicionais são obtidas a partir de pesquisas que mostram que o corpus callosum (corpo caloso) é uma grande massa de fibras nervosas conectada a ambos os hemisférios cerebrais, sendo maior nas mulheres do que nos homens, embora essa descoberta tenha sido contestada recentemente.

Em outra pesquisa, um grupo da Universidade de University of Cincinnati, nos Estados Unidos, Canadá, apresentou evidências morfológicas de que enquanto os homens têm mais neurônios no córtex cerebral, as mulheres tem um neuropil mais desenvolvido - isto é, o espaço entre os corpos celulares que contém as sinapses, os dendritos e os axônios, e permite a comunicação entre os neurônios. De acordo com a Dra. Gabrielle de Courten-Myers, essa pesquisa pode explicar porque as mulheres são mais propensas à demência, como por exemplo, a doença de Alzheimer, do que os homens, porque embora ambos percam o mesmo número de neurônio por causa da doença, "nos homens, a reserva funcional pode ser maior, pois existe um maior número de células nervosas, o que poderia prevenir parte das perdas funcionais".

Os pesquisadores realizaram medidas em fatias cerebrais de 17 mortos (10 homens e 7 mulheres) tais como espessura do córtex e número de neurônios em diferentes partes do córtex.Outros pesquisadores, dirigidos pelo Dr. Bennett A. Shaywitz, um professor de Pediatria na Faculdade de Medicina da Universidade de Yale, descobriram que o cérebro das mulheres processa a linguagem verbal simultaneamente nos dois lados (ou hemisférios) do cérebro frontal, enquanto que os homens tendem a processá-la apenas no hemisfério esquerdo. Eles realizaram imagens de tomografia por ressonância magnética planar funcional em 38 cérebros de indivíduos destros (19 homens e 19 mulheres). A diferença foi demonstrada em um teste em que os sujeitos deviam ler uma lista de palavras sem sentido e encontram suas rimas. É curioso observar que os orientais que usam idiomas escritos baseados em figuras (isto é, os ideogramas) tendem também a utilizar ambos os hemisférios cerebrais, independentemente do gênero.
Embora a maioria dos estudos anatômicos e funcionais realizados até agora tenham se concentrado no córtex cerebral, que é responsável pelas funções cognitivas e intelectuais superiores do cérebro, outros pesquisadores como o Dr. Simon LeVay, têm demonstrado que existem diferenças de gênero em partes mais primitivas do cérebro, como por exemplo o hipotálamo, onde a maioria das funções básicas da vida são controladas, incluindo o controle hormonal através da glândula pituitária.LeVay descobriu que o volume de um núcleo específico do hipotálamo ( terceiro grupo de célula no núcleo intersticial do hipotálamo inferior) é duas vezes maior em homens heterossexuais do que nas mulheres e nos homossexuais, provocando um debate caloroso sobre a possível existência de uma base biológica de onde é possível registrar a homossexualidade.
Assim o estudo demonstra uma diferença no hipotálamo dos homens heterossexuais, das mulheres e dos homossexuais, observe a seguinte foto, revelada no livro do Dr. Simon LeVay. Ressonância magnética revela que fluxo de sangue na área do cérebro que controla emoções de homossexuais é parecido com o do sexo oposto.
Portanto, tais revelações indicam que a diferenciação cromossômica na determinação sexual dos humanos, distingue além da modelagem corporal e os sistemas reprodutores, órgão onde até então, acreditava-se ser igual em ambos os sexos, o cérebro.
Dr. LeVay escreveu um interessante livro sobre as diferenças do cérebro em função do sexo, intitulado "The Sexual Brain", registrando assim a sua contribuição científica e permitindo um debate acadêmico sério em sua metodologia e ético em sua expressão social.


Evolução Humana e os Fatores do Meio Ambiente


Qual o motivo para essas diferenças de gênero em estrutura e função?


Segundo a Society for Neuroscience, a maior organização Profissional da área, a evolução é que confere sentido a isso. "Em épocas muito antigas, cada sexo tinha um papel muito definido que ajuda a assegurar a sobrevivência da espécie. Os homens da caverna caçavam. As mulheres da caverna recolhiam comida perto de casa e cuidavam das crianças. As áreas do cérebro podem ter sido desenvolvidas para permitir que cada sexo realizasse suas tarefas". O Prof. David Geary, da Universidade de Missouri, nos Estados Unidos, um pesquisador do campo das diferenças de gênero, pensa que "em termos evolutivos, o desenvolvimento de habilidades navegacionais pode ter tornado os homens mais capacitados para o papel de caçador, enquanto que o desenvolvimento pelas mulheres de preferências por marcos espaciais pode ter capacitado-as para cumprir suas tarefas de coletoras de alimento perto de casa". A vantagem das mulheres relativa às habilidades verbais também pode fazer sentido em termos evolutivos. Enquanto que os homens têm força corporal para competir com outros homens, as mulheres usam a linguagem para conseguir vantagens sociais, através da argumentação e persuasão, afirma Geary.
A autora Deborah Blum, que escreveu Sex on the Brain: The Biological Differences Between Men and Women (O sexo no cérebro: as diferenças biológicas entre homens e mulheres). Nesse livro a autora Transmite as tendências atuais quanto ao uso de motivos evolutivos para explicar vários dos nossos comportamentos. Ela afirma: "O enjôo matinal, por exemplo, que faz com que algumas mulheres afastem-se de cheiros e sabores fortes, pode ter protegido, em tempos idos, aos fetos no útero contra substâncias tóxicas. A infidelidade é uma maneira na qual os homens asseguram a imortalidade genética. É interessante notar que, quando mudamos deliberadamente nosso comportamento de papel social nossos hormônios e até mesmo os cérebros respondem transformando-se também".
Durante o desenvolvimento do embrião no útero, os hormônios circulantes possuem um papel muito importante na diferenciação sexual do cérebro. A presença de andrógenos, no início da vida, produz um cérebro "masculino". Ao contrário, acredita-se que o cérebro "feminino" se desenvolva por um mecanismo de ausência hormonal, a falta de andrógeno. Mas, as descobertas recentes demonstraram que os hormônios ovarianos também desempenham um papel fundamental na diferenciação sexual.
Uma das evidências mais convincentes do papel dos hormônios tem sido demonstrada graças ao estudo de meninas expostas a elevados níveis de testosterona no período da gravidez, pois suas mães tinham hiperplasia adrenal congênita. Essas meninas parecem ter uma melhor consciência espacial do que outras meninas e apresentam maior tendência a mostrar, quando criança, um comportamento turbulento e agressivo, muito parecido com o dos meninos.

 
Fatos e Preconceitos
Essas diferenças podem implicar em uma relação de superioridade/inferioridade entre os homens e as mulheres? “Não”, afirma o Dr. Pearlson. "Afirmar isso significa dizer que os homens são automaticamente melhores em algumas coisas do que as mulheres, é uma atitude simplista. É fácil encontrar mulheres que são extraordinárias em matemática e física e homens que são excelentes em habilidades de linguagem. Somente quando examinamos uma população muito grande e investigamos tendências pequenas, porém significativas podemos ver as generalizações, existem muitas exceções, mas há também uma pitada de verdade, revelada pela estrutura cerebral, que acreditamos estar subjacente a algumas das maneiras pelas quais as pessoas caracterizam os sexos”.
O Dr. Courten-Myers acrescenta: "O reconhecimento de maneiras específicas ao gênero de pensar e sentir, tornadas ainda mais críveis dadas essas diferenças bem estabelecidas, poderia ser benéfico para a melhora de relações interpessoais. Porém, a interpretação dos dados também pode trazer abuso e prejuízo se qualquer um dos gêneros ao tentar construir evidências para a superioridade do homem ou da mulher baseadas nessas descobertas”.
A conclusão é que a Neurociência vem realizando grandes avanços desde a década de 1990, objetivando ampliar o bem-estar de viver, estudando os cérebros humanos e de animais, onde se percebe a força da influência genética até no campo da saúde orgânica e mental.
Embora esse conhecimento possa teoricamente ser usado para justificar atitudes de misoginia, aversão às mulheres, e preconceito contra os homossexuais, homofobia, esperamos que nada disso ocorra, visto que todo o conhecimento científico objetiva sempre, acrescentar qualidade de vida como um todo à sociedade humana. Na verdade, esperamos que esses novos conhecimentos possam continuar ajudando os médicos, psicólogos, biólogos e demais cientistas a descobrirem novas maneiras de explorar as diferenças cerebrais para o tratamento de doenças graves, como Alzheimer, e mentais, como a Esquizofrenia, duas grandes patologias de desafios científicos atuais.

Em seu livro Admirável Cérebro Novo", Nancy C. Andreasen revela que a maioria dos cientisas acreditavam que a Esquizofrenia era uma doença de ordem psicológica, oriunda de um ambiente familiar desfavorável, a autora revela que pesquisas atuais demonstram que 75% dos estudos publicados usando imagens de tomografia computadorizada, mostram que existem diferenças de grupos significativas no tamanho do sistema ventricular em pacientes com Esquizofrenia em comparação com controles normais.

Como o alargamento dos ventrículos provavelmente reflete algum tipo de lesão cerebral amplamente definida (seja a falta de crescimento cerebral ou a perda de células nervosas ou dentritos), esses achados sugerem que os pacientes com Esquizofrenia tiveram alguma forma de lesão em seus cérebros, que está relacionada com a sua doença e que, provavelmente não seja física (por exemplo: vírus, nutrição, lesões natais, anormalidade em programação genética). Deve-se enfatizar contudo, que esses resultados não são específicos ou diagnósticos. O alargamento ventricular é visto em outras doenças, como a doença de Alzheimer, e não está presente em todas as pessoas que têm Esquizofrenia.

Observa-se então que parte de uma crença que colocava a doença mental como um fator do ambiente que envolve a vida da pessoa, hoje necessita ser melhor investigada por uma equipe interdisciplinar capaz de compreender não só a manifestação do comportamento, mas os mecanismos oriundos da força de manifestação cerebral, visando quem sabe, não só encontrar condições de aprofundamento dos tratamentos, mais fundamentalmente oferecer cura às pessoas que sofrem e que poderão sofrer das patologias cerebrais e mentais.

Através desses novos avanços científicos oriundos da neurociência, neuropsicologia e da sociobiologia, esperamos dinamizar a ação de medicamentos facilitando ações terapêuticas em diferentes procedimentos cirúrgicos, químicos e psicoterápicos, pois a dor física ou psicológica em sua dimensão, não tem um sexo definido, apenas se faz presente na vida de todas as pessoas, sem nenhuma exceção de classe social, credo religioso e visão cultural.


Saiba mais:

Renato M.E. Sabbatini Doutor em Neurofisiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto. mailto:sabbatin@nib.unicamp.br


Bibliografia recomendada:

Andreasen, Nancy C. "Admirável Cérebro Novo". 2005 [ARTMED] Porto Alegre, Brasil.

LeVay S. A difference in hypothalamic structure between heterosexual and homosexual men Science. 253(5023):1034-7, 1991 [MEDLINE] See also: LeVay, S.: "The Sexual Brain". MIT Press, 1994 AMAZON.

Moir A. and Jessel D. - "Brain Sex". 1993 [AMAZON] See also: Excerpts from the book)

Pinel, John P. J. "Biopsicologia". 2005 [ARTMED] Porto Alegre, Brasil.

Wilson, E.O. - "Sociobiology". Harvard University Press, 1992 [AMAZON].

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