sexta-feira, 20 de maio de 2011

Amazônia: Um Breve Relato Sobre o Estreito de Breves – Pará – Brasil!



Amazônia: Um Breve Relato Sobre o Estreito de Breves - Pará - Brasil


O Estreito de Breves é um lugar muito conhecido na região amazônica por uma finalidade singular, serve de ligação à navegação entre os Estados do Pará e seus vizinhos, como Amapá, Amazonas, além de municípios da região.

O mesmo é canal fluvial necessário para quem navega na direção do Arquipélago do Marajó, sendo este o maior arquipélago fluvio-marítimo do planeta, composto por 2500 ilhas e ilhotas, com extensão territorial que abrangem 12 municípios do Estado do Pará, sendo o Município de Breves, Afuá, Anajás, Cachoeira do Arari, Chaves, Curralinho, Muaná, Santa Cruz do Arari, São Sebastião da Boa Vista, Ponta de Pedras, Salvaterra e Soure, estes três últimos municípios famosos por suas belas praias e fazendas criadoras de búfalos, servindo de atrativo turístico para a região.

A população do Estreito de Breves habita casas de madeira, com cobertura de palha seca, extraídas de palmeiras nativas da região, ou cobertas de cavaca, espécie de telhas de madeira. Quase sempre essas casas não têm distribuição de cômodos, sendo que as paredes das mesmas não são totalmente fechadas, apresentando brechas nas madeiras, permitindo com isso visualização externa quando da proximidade da mesma. As descrições das condições de moradia e da sobrevivência dessas famílias, revelam um abandono total por parte dos Governos Federal, Estadual e Municipal, no sentido de que nenhum tipo de infra-estrutura social seja possibilitado a comunidade local, resultando em uma ampla pobreza e miséria, que se inicia pela baixa escolaridade da população, além da falta de ocupação profissional, tornando essas comunidades excluídas de condições sociais de ascensão, produzindo uma semelhança expressiva entre pobres e miseráveis no horizonte e na margem do Rio Pracaxi, sendo esse o Rio mais usado pela navegação regional, visto possibilitar que imensos navios de cargas e passageiros possam navegar no mesmo, em função de sua grande profundidade.

Assim, esta solidão material e de recursos sociais, obriga as crianças a pedir alimentos em ‘casquinhos’ ou canoa a remo.
No estreito de Breves até pé de galinha, pescoço e vísceras são alimentos saudáveis e festejados pela população, quando doados pelas embarcações, ou por seus passageiros. Logo, o lugar vive e sobrevive de esmola diária e do faz de conta dos governantes como um todo.
O estreito é um lugar ímpar, onde o outro é apenas um olhar de reflexo entre a margem e o horizonte, sem necessariamente proporcionar uma reflexão, no sentido de que ali estão pessoas que também são cidadãos brasileiros. Porém, como é uma viagem, o outro que é passageiro, passa no sentido da proa das embarcações, ficando, as vezes, em seu cérebro, a imagem de desespero e esperança que se revela no contato estimulativo causado pelo grito da criança, vestida ou quase nua, a pedir alimentos, com os gestos de seus braços que acenam na direção do grande navio, marcado pelo outro que vê, porém sem imaginar se será reconhecida como semelhante, e mesmo se continuará existindo sem o abraço afetivo.
O que importa é que ela, a criança, tenha que embarcar no casquinho, fixar seu olhar no centro do estreito, implorar, através do grito, por algo à nível de doação para continuar coexistindo na vida de pobreza e miséria absoluta a que está condenada até a presente data.

A maioria dos pais dessas crianças do Estreito de Breves sobrevivem da extração de palmito, açaí e frutas de época, bem como do camarão. Grande parte dessas mercadorias são oferecidas pelos moradores para quem está navegando no estreito, através de seus filhos.
Essas crianças remam nas águas da esperança de continuar a viver, sonhar e sorrir...
Para conseguirem entrar nas embarcações, elas têm que pôr suas vidas em risco, são obrigadas a atracar suas canoas ou casquinhos no navio em movimento, e para isso precisam laçar um gancho que existe na embarcação, segurar na corda que está amarrada em sua na canoa ou que está firme em suas mãos, pois o navio não para. Dessa forma elas embarcam e procuram vender seus produtos regionais, algumas escolhem o escambo, ou seja, troca de mercadorias por principalmente óleo diesel, arroz, feijão, açúcar, etc...
A jovem moça que veio à Embarcação oferecer Pupunha e Cupuaçu, frutos da região amazônica, não aceita vendê-los, pois dinheiro para ela não tem utilidade, ela prioriza trocar esses produtos principalmente por óleo diesel, mas nem sempre é assim, pois algumas crianças aceitam vender em moeda brasileira, chamada de Real.

Esse cenário social, promovido pela ausência dos governos em todas as esferas citadas anteriormente, forçam às empresas de navegação que trafegam no Estreito de Breves, e aqui se inclui Balsas, Navios e Barcos Gaiolas, aqueles repletos de redes de passageiros, um custo social adicional de óleo diesel, para que seus tripulantes possam trocar em produtos oferecidos pelos ribeirinhos, ou seja, as empresas pagam à conta, além de suas contribuições fiscais, objetivando minimizar o conflito subliminar que o choque social produz entre a riqueza transportada e a pobreza e miséria instaurada na região.
A prostituição infanto-juvenil também é uma alternativa para conseguir Óleo Diesel e sobrevivência social dentro das embarcações. Assim é possível negociar um "encontro amoroso", desculpem a expressão, por 15 ou 20 litros, em algumas situações, com menor quantidade de óleo diesel, com a idade das moças variando a partir dos 12 anos. Sem comentários...
O Estreito de Breves também revela a beleza que o poeta Paraense Ruy Barata nos deixou: "este rio é minha rua, minha e tua mururé, piso no peito da lua, deito no chão da maré”... Porém todos nós brasileiros, esperamos um dia encontrarmos essa rua de água amazônica, em condições de oferecer moradia, saúde e escolaridade aos seus habitantes e que essa realidade social, chamada de pobreza e miséria brasileira, não sirva apenas de documentário para televisões nacionais e internacionais, como a Televisão Árabe Al-Jazira que está expondo um documentário ao mundo sobre essa realidade vivida no Estreito de Breves, realidade Made in Brazil, demonstrando a forma como as crianças se aproximam dos navios de passageiros e o risco de vida que elas passam nesta operação ao tentar atracar a canoa em um navio em movimento, e o documentário explica que a cena não é brincadeira de criança e sim trabalho infantil legalizado no Brasil.

Não podemos nos esquecer que a necessidade de preservação da Amazônia, passa necessariamente pela preservação do Homem amazônico. Não se trata de paternalizar a questão, mas de dar condições reais de desenvolvimento a região. Araras, tucanos, tartarugas, botos tucuxi e cor-de-rosa, açaizeiro, tucunaré, pirarucu, onça e tantas outras espécies precisam de proteção, porém o Homem só pode preservar o meio ambiente se ele conceber sua existência preservada. Assim temos que defender o meio ambiente, mas que esse não exclua o homem de sua condição na evolução social.
Eliminar o quadro de abandono social em que vive a população do Estreito de Breves, onde ainda hoje a miséria e a pobreza imperam, é o que poderá produzir o início de uma era em busca do equilíbrio benéfico à relação Homem - Meio ambiente.


Esta foto é do Navio Artic Sunrise, do Greenpeace, que atravessa o Estreito de Breves, no Pará. Esta embarcação veio ao Brasil como parte dos protestos realizados durante o Fórum Social Mundial. (Foto: Rodrigo Baleia/Greenpeace)
Com investimentos sócio-econômico-educacional, por parte dos governos, da iniciativa privada e da sociedade como um todo, a essa população ribeirinha, do norte do Brasil, será possível fazer turismo neste belo arquipélago do Marajó e assim desfrutar da alegria das pessoas que habitam essa parte da Amazônia, cantando os versos e recitando poemas não de uma realidade social de exclusão, mas de ternura, em ver a harmonia da vida natural e o bem estar do homem em sua relação com a meio ambiente, alicerçada no respeito e dignidade a toda forma de vida existente na região mais cobiçada e estudada no mundo atual.

A Amazônia é Brasileira e o nosso desafio como nação, é dar condições de vida digna, as gerações familiares que vivem a margem dos nossos rios, porém sem jamais permitir que possam continuar vivendo a margem da sociedade.
Esse é o nosso desafio e a história brasileira dirá de forma estreita e breve, o que está acontecendo no Estreito de Breves.
Mauri N. Lima Gaspar - Psicólogo e Professor Universitário.

3 comentários:

  1. Perfeito professor.
    Disse tudo!
    Eu penso que nunca vai mudar .....
    Araisso de pedofilia , trafico de órgãos e tudo de mais terrível que se posa pensar.
    Embaixadado inferno na terra!

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  2. Oi amigo, penso que temos que buscar parcerias púbicas e privadas para poder atuar nesse território tão desigual. Nossa constituição possibilita essa janela jurídica, então nossas ações devem ser de compartilhamento de um sonho, onde a cidadania deverá chegar para todos que residem nesse país continental.
    Obrigado por teu comentário.
    Forte abraço.

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  3. Quem se engana ainda em acreditar que a Amazônia é brasileira ? Se estar terminado de ser entregue a uma elite globalista.

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